8 de set. de 2010

Um caso de amor


Há muito tempo fui enfeitiçado pela arte. Nem sei dizer onde isso começou. Creio que deva vir de outra existência. 
Na infância fui muito contemplativo, principalmente nas transições da natureza, quando o céu se petrechava de nuvens negras e lampejava raios “o estrondo me causava temor, mas não me constrangia” e depois da chuva ele se transformava em puro azul, quando as folhas se desprendiam dos galhos e forravam os pés das árvores, quando a chuva caia pesada e transformava as ruas em corredeiras, quando o sol se punha no horizonte, quando os siriris se punham a rodear a lâmpada acessa, quando a neblina misturava o mundo com o seu véu que lentamente se esvaia deixando transparecer apenas parte das coisas, quando os vagalumes enfeitavam de natal o mato ao cair das noites de verão. Eu ficava fascinado em cada um destes acontecimentos e apaixonado por algo que não havia palavras para explicar. 
A idéia sobre aquilo tudo como na arte era muito subjetiva, aparentemente não existia utilidade objetiva para nada daquilo, parecia mais a apresentação de um mega-show, alguém queria me mostrar do quanto era capaz e eu adorava e tinha o dom de apreciá-lo. Magnífico mestre de todas as artes, que me desvendava os seus truques, embora, creio, ele soubesse das minhas limitações. 
O tempo passou e misturei-me à mescla dos homens, aprendi os seus costumes, seus códigos de relacionamentos, seus limites, seus medos, preconceitos e meias-verdades. O mundo dos homens e suas necessidades foram proeminentes e me ocuparam demais. Com o passar do tempo, muito de mim ficou limitado ao meu eu interior, mas a arte continuava lá sempre inquieta pronta para insidiar o meu cotidiano, costumes e compromissos. Ela me chamava, colocava-se em meu caminho e a minha frente “quase para eu tropeçar”, o mundo das artes, surgiam catálogos, revistas de arte, convite para exposições, pessoas envolvidas com as artes e eu me identificava demais com tudo aquilo. Demorei a perceber isso e por isso mesmo a minha vida amorosa, econômica e profissional, tiveram muitos altos e baixos, elas dividiam, sem que me desce conta, espaços com a minha amada arte. 
As outras coisas se dispersavam, mas a arte resistia, continuava lá procurando por onde se manifestar. Aos poucos fui cedendo e deixando que ela tomasse conta de meus objetivos de vida “embora em muitas ocasiões e até de forma vulgar ela praticamente me forçasse de muitas formas a “tela” expressá-la”. 

Foi isso tudo o que tornou claro a minha relação com a arte. Por isso hoje me dedico a ela e espero fazer por merecê-la.

moacir p ponti

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